28 dezembro, 2009

NOSSOS AGRADECIMENTOS

E, como nos diz Drummond, de tudo fica um pouco. Um pouco das trocas vividas nos nossos encontros, das leituras, dos debates, das atividades criadas, dos conhecimentos adquiridos, das características pessoais das formadoras e dos cursistas, da dedicação, do carinho, das brincadeiras nos momentos descontraídos do nosso lanchinho. Se de tudo fica um pouco, de todos fica uma imensa saudade.
Ledinalva e Luciana.

20 dezembro, 2009

15 dezembro, 2009

ALGUNS DEPOIMENTOS...

“O projeto GESTAR II veio para preencher uma lacuna deixada pelo ensino superior em Letras”
Prof. Marcus Knupp

“A língua não é algo estável, ela muda constantemente como as águas de um rio que correm por um determinado percurso e por mais parecida que sejam nunca são iguais, as águas que correm hoje ou agora jamais voltarão a correr; e para cada palavra haverá um contexto novo, o vocábulo dito agora não será igual se for repetido daqui a um segundo. O ensino da língua deveria seguir esse mesmo dinamismo, no entanto alguns docentes insistem em manter suas aulas congeladas num freezer” com atividades repetitivas e cansativas. Os encontros do GESTAR contribuíram para tornar minhas aulas mais dinâmicas e “descongeladas , as aulas passavam tão de pressa que a tarefa de ensinar tornou-se muito mais leve e tranquila. “As propostas do GESTAR me fizeram entender que o planejamento é a chave de tudo, pois com uma aula previamente planejada as atividades fluem mais, e quase sempre dão certo. Penso que, com as propostas do ‘Avançando na prática’ consegui fazer com que os alunos atribuíssem algum sentido ao ensino da Língua Portuguesa.”

Lília Alves Brito

08 dezembro, 2009

OFICINA 12 (Semana de 07 a 12 de dezembro)

TP2 - ANÁLISE LINGUÍSTICA E ANÁLISE LITERÁRIA

Os estudos dessa oficina tiveram por objetivos caracterizar as gramáticas interna, descritiva e normativa e o ensino produtivo, reflexivo e prescritivo, além de conceituar e estabelecer a diferença entre frase, período e oração. Procuramos também, identificar a arte na vida cotidiana, suas formas, características e funções.
Após os relatos do Avançando na prática, propomos o planejamento de uma atividade de interpretação e produção de texto e uma atividade  de análise linguísitica a partir  do texto OSARTA.
Cada professor realizou também uma atividade artística a partir do seu nome, a qual chamamos de arte com nome.





CONSIDERAÇÕES:

Em comparação com outros cadernos de teoria e prática (TPs), o TP2 deixa a desejar no que diz respeito a questão da análise linguística, pois parte do pressuposto de que os professores já sejam conhecedores do trabalho com a gramática a serviço do texto.Isso ficou evidente na fala dos cursistas, quando expressaram dificuldade em elaborar atividades que tivessem o texto como ponto de partida e de chegada para o trabalho com a gramática. 






LEITURA DELEITE:

O gigolô das palavras
(Luís Fernando Veríssimo)

Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa ("Culpa da revisão! Culpa da revisão !"). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.

Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, mover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.

Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas - isso eu disse - vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.

Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa ! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda. 


AVALIAÇÃO 


Gostei muito de ter compartilhado

Estes momentos com um grupo tão

Seleto durante o ano de 2009.

Talvez não tenhamos mais a oportunidade de tão prazeroso convívio.

Ainda que os nossos caminhos sejam tão adversos e nossos fardos tão pesados,

Rezo para que cada um de nós esteja no caminho da felicidade e que

Levemos algo de frutífero deste curso

Pela estrada da vida.

Com carinho,
professor Geneci
Dez/2009       

28 novembro, 2009

OFICINA 11 (Semana de 23 a 28 de novembro)

TP1 - LINGUAGEM E CULTURA

Nesta oficina, fizemos o estudo dirigido do TP1 com vistas a alcançar os seguintes objetivos: relacionar língua e cultura, dialetos e registros, língua falada e língua escrita, norma culta e normas populares e linguagem literária;  conceituar texto e indicar as razões do seu estudo prioritário  no ensino/aprendizagem de línguas.
Após os relatos dos Avançando na Prática, propomos a reescrita de um trecho da crônica Antigamente, de Carlos Drummond de Andrade, com uma adaptação para a linguagem empregada atualmente pelos cursistas ou por seus alunos.



CONSIDERAÇÕES
Em virtude dos problemas que ocorreram em nossa rede, neste semestre, tais como adiamento das aulas, paralisações e as  conferências municipal e intermunicipal, para cumprimento do programa dentro do cronograma determinado, fomos forçados a realizar o estudo do TP1 em uma só oficina.
Apesar disso, conseguimos planejar a oficina de tal forma que todos os objetivos foram atingidos.

LEITURA DELEITE

OS SETE CONSTITUINTES

Quem já passou no sertão
E viu o solo rachado,
A caatinga cor de cinza,
Duvido não ter parado
Pra ficar olhando o verde
Do juazeiro copado.

E sair dali pensando:
Como pode a natureza
Num clima tão quente e seco,
Numa terra indefesa
Com tanta adversidade
Criar tamanha beleza.

O juazeiro, seu moço,
É pra nós a resistência,
A força, a garra e a saga,
O grito de independência
Do sertanejo que luta
Na frente da emergência.

Nos seus galhos se agasalham
Do periquito ao cancão.
É hotel do retirante
Que anda de pé no chão,
O general da caatinga
E o vigia do sertão.

E foi debaixo de um deles
Que eu vi um porco falando,
Um cachorro e uma cobra
E um burro reclamando,
Um rato e um morcego
E uma vaca escutando.

Isso já faz tanto tempo
Que eu nem me lembro mais
Se foi pra lá de Fortim,
Se foi pra cá de Cristais,
Eu só me lembro direito
Do que disse os animais.

Eu vinha de Canindé
om sono e muito cansado,
Quando vi perto da estrada
Um juazeiro copado.
Subi, armei minha rede
E fiquei ali deitado.

Como a noite estava linda,
Procurei ver o cruzeiro,
Mas, cansado como estava,
Peguei no sono ligeiro.
Só acordei com uns gritos
Debaixo do juazeiro.

Quando eu olhei para baixo
Eu vi um porco falando,
Um cachorro e uma cobra
E um burro reclamando,
Um rato e um morcego
E uma vaca escutando.

O porco dizia assim:
– “Pelas barbas do capeta!
Se nós ficarmos parados
A coisa vai ficar preta...
Do jeito que o homem vai,
Vai acabar o planeta.

Já sujaram os sete mares
Do Atlântico ao mar Egeu,
As florestas estão capengas,
Os rios da cor de breu
E ainda por cima dizem
Que o seboso sou eu.

Os bichos bateram palmas,
O porco deu com a mão,
O rato se levantou
E disse: – “Prestem atenção,
Eu também já não suporto
Ser chamado de ladrão.

O homem, sim, mente e rouba,
Vende a honra, compra o nome.
Nós só pegamos a sobra
Daquilo que ele come
E somente o necessário
Pra saciar nossa fome.”

Palmas, gritos e assovios
Ecoaram na floresta,
A vaca se levantou
E disse franzindo a testa:
– “Eu convivo com o homem,
Mas sei que ele não presta.

É um mal-agradecido,
Orgulhoso, inconsciente.
É doido e se faz de cego,
Não sente o que a gente sente,
E quando nasce e tomando
A pulso o leite da gente.

Entre aplausos e gritos,
A cobra se levantou,
Ficou na ponta do rabo
E disse: – “Também eu sou
Perseguida pelo homem
Pra todo canto que vou.

Pra vocês o homem é ruim,
Mas pra nós ele é cruel.
Mata a cobra, tira o couro,
Come a carne, estoura o fel,
Descarrega todo o ódio
Em cima da cascavel.

É certo, eu tenho veneno,
Mas nunca fiz um canhão.
E entre mim e o homem,
Há uma contradição
O meu veneno é na presa,
O dele no coração.

Entre os venenos do homem,
O meu se perde na sobra...
Numa guerra o homem mata
Centenas numa manobra,
Inda tem cego que diz:
Eu tenho medo de cobra.”

A cobra inda quis falar,
Mas, de repente, um esturro.
É que o rato, pulando,
Pisou no rabo do burro
E o burro partiu pra cima
Do rato pra dar-lhe um murro.

Mas, o morcego notando
Que ia acabar a paz,
Pulou na frente do burro
E disse: – “Calma, rapaz!...
Baixe a guarda, abra o casco,
Não faça o que o homem faz.”

O burro pediu desculpas
E disse: – “Muito obrigado,
Me perdoe se fui grosseiro,
É que eu ando estressado
De tanto apanhar do homem
Sem nunca ter revidado.”

O rato disse: – “Seu burro,
Você sofre porque quer.
Tem força por quatro homens,
Da carroça é o chofer...
Sabe dar coice e morder,
Só apanha se quiser.”

O burro disse: – “Eu sei
Que sou melhor do que ele.
Mas se eu morder o homem
Ou se eu der um coice nele
É mesmo que estar trocando
O meu juízo no dele.

Os bichos todos gritaram:
– “Burro, burro... muito bem!”
O burro disse: – “Obrigado,
Mas aqui ainda tem
O cachorro e o morcego
Que querem falar também.”

O cachorro disse: – “Amigos,
Todos vocês têm razão...
O homem é um quase nada
Rodando na contramão,
Um quebra-cabeça humano
Sem prumo e sem direção.

Eu nunca vou entender
Por que o homem é assim:
Se odeiam, fazem guerra
E tudo o quanto é ruim
E a vacina da raiva
Em vez deles, dão em mim.”
Os bichos bateram palmas
E gritaram: – “Vá em frente.”
Mas o cachorro parou,
Disse: – “Obrigado, gente,
Mas falta ainda o morcego
Dizer o que ele sente.”

O morcego abriu as asas,
Deu uma grande risada
E disse: – “Eu sou o único
Que não posso dizer nada
Porque o homem pra nós
Tem sido até camarada.

Constrói castelos enormes
Com torre, sino e altar,
Põe cerâmica e azulejos
E dão pra gente morar
E deixam milhares deles
Nas ruas, sem ter um lar.”

O morcego bateu asas,
Se perdeu na escuridão,
O rato pediu a vez,
Mas não ouvi nada, não.
Peguei no sono e perdi
O fim da reunião.

Quando o dia amanheceu,
Eu desci do meu poleiro.
Procurei os animais,
Não vi mais nem o roteiro,
Vi somente umas pegadas
Debaixo do juazeiro.

Eu disse olhando as pegadas:
Se essa reunião
Tivesse sido por nós,
Estava coberto o chão
De piubas de cigarros,
Guardanapo e papelão.


Botei a maca nas costas
E saí cortando o vento.
Tirei a viagem toda
Sem tirar do pensamento
Os sete bichos zombando
Do nosso comportamento.

Hoje, quando vejo na rua
Um rato morto no chão,
Um burro mulo piado,
Um homem com um facão
Agredindo a natureza,
Eu tenho plena certeza:
Os bichos tinham razão.

PROFESSORES EM AÇÃO

Reescrita do trecho de Antigamente  (Drummond)

"ANTIGAMENTE, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio."

Atualmente, as moças são 'as mina'. A caranga dos 'homi' é viatura, mas um dia foi atrulhinha e a vovó dizia que era 'joaninha'.
Atualmente, vivo em terra de siglas: LCD, LED ou HDTV? Era mais fácil ver televisão...
Importante era terminar o 2° grau, agora o ensino médio é o nome normal. Normal era  formação de professores, que um dia será só em nível superior
E ninguém fará mais vestibular. VC10 o novo ENEM (siglas... mais uma!) para revolucionar.
Aí, você imagina: a 'joaninha' parou para investivar se Escola Normal formava professores para encarar o ENEM feito via internet numa tela de LCD
A! Língua viva... português. Língua  do Brasil!"                            (Cesar Marques)


"No tempo dos 'coroa', as 'novinha' era chamada de gatinha e geral era direitinha, na moral. Não crescia toda hora, fazia aniversário e toda hora era festa. Os pegadores esperavam as festas pra 'azará' e 'pegá' as 'mina'"                   (Geneci)















AVALIAÇÃO

"Caraca, maluco, o encontro de formação bombô. Zuamos pra caramba. Aprendemos pacas. Valeu. Fui"                                      (Helismar Azevedo)

"Ô, tia! O encotro foi maneiro, mas pena que o Geneci vazou mais cedo e o Helismar tenha vindo com o uniforme do 'framengo'  Aí , deu onze e trinta  e meti o pé pra fazer uma prova... mas, valeu!"                                  (Cesar Marques)


"O encontro de hoje foi 'sinistro', muito 'manero', 'irado'. Minhas professoras são muto 'show'. Aprendi coisa 'pra caramba'. Só fiquei meio 'bolado' porque muita gente faltou."
(André Moraes)

"Cara, o encontro de hoje foi maneiro pra caramba. O assunto agradou geral, a coisa foi na base da brincadeira, mas o negócio era sério , importante e assim fica mais fácil"
(Teresa Cristina)

22 novembro, 2009

Demônios da Garoa - Tiro ao Álvaro

Tiro ao Alvaro - Demônios da Garoa

http://www.youtube.com/watch?v=HVYzFCUf8Bk

Composição: Adoniran Barbosa / Oswaldo Moles
De tanto levar
Flechada do teu olhar
Meu peito até
Parece sabe o quê?
Táuba de tiro ao Álvaro
Não tem mais onde furar
Não tem mais!...

De tanto levar
Frechada do teu olhar
Meu peito até
Parece sabe o quê?
Táuba de tiro ao Álvaro
Não tem mais onde furar...

Teu olhar mata mais
Que bala de carabina
Que veneno estricnina
Que peixeira de baiano...

Teu olhar mata mais
Que atropelamento
De automóvel
Mata mais
Que bala de revólver...

De tanto levar
Frechada do teu olhar
Meu peito até
Parece sabe o quê?
Táuba de tiro ao Álvaro
Não tem mais onde furar
Não tem mais!...

De tanto levar
Frechada do teu olhar
Meu peito até
Parece sabe o quê?
Táuba de tiro ao Álvaro
Não tem mais onde furar...

Teu olhar mata mais
Que bala de carabina
Que veneno estricnina
Que peixeira de baiano...

Teu olhar mata mais
Que atropelamento
De automóvel
Mata mais
Que bala de revólver...

De tanto levar
Frechada do teu olhar
Meu peito até
Parece sabe o quê?
Táuba de tiro ao Álvaro
Não tem mais onde furar...

14 novembro, 2009

Nós somos o Gestar!



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OFICINA 10 (SEMANA DE 09 A 14 DE NOVEMBRO)

TP6 - LEITURA E PROCESSOS DE ESCRITA II - unidades 23 e 24


Análise linguística e produção de texto
Nesta oficina, realizamos a análise linguística de um texto publicitário e percebemos, como nos diz Irandé Antunes, que "Língua e gramática podem ser uma solução se soubermos ir adiante, muito além da gramática; muito além até mesmo da língua, para alcançar a nós mesmos e aos vestígios mais sutis da cultura, da história, dos discursos todos que teceram e tecem os versos de cada um".
Realizamos também uma atividade do AAA6, p. 49 - Uma história maluca. Nossos cursistas consideraram as atividades práticas muito positivas, sendo possível realizá-las em sala de aula. Ressaltaram que a partir delas, podem-se criar textos em diferentes gêneros e desenvolver a capacidade de escrita dos alunos .


LEITURA DELEITE

OUTUBRO DE 2002 - Trecho do Livro: Calendário do Poder
Não se pense que javé se lançou à obra da Criação com os próprios braços. Deitado eternamente em berço esplêndido incumbiu serafins e querubins de executarem o projeto América Latina. Animados, os anjos puseram mãos à obra, convencidos de que da prancheta do Grande Arquiteto resultaria o melhor.

Lá pelas tantas os serafins estranharam pequenos erros de cálculo. Ora, não fora tudo previsto pela Infinita Sabedoria? Perante desajustes evidentes, alguns anjos relaxaram no trabalho: aos olhos dos arcanjos, pareceu boicote ao projeto.

Bom patrão, Javé dispôs-se a dialogar com os relapsos:
- Por que têm faltado ao trabalho?
- Porque o projeto não é justo respondeu o líder dos serafins.
- Como não é justo? Espantou-se o Sumamente Justo.
- Veja Senhor – argumentou o anjo, o México é proporcional à Argentina: a Nicarágua à Bolívia: o Panamá ao Uruguai. Mas há um país demasiado grande na América do Sul. Por que não dividi-lo em cinco ou seis, e evitar no futuro queixas de que o Senhor privilegiou o Brasil?
Irritado por duvidarem de sua imparcialidade, Javé reagiu:
- Sei muito bem o que faço. E ordenou: Prossigam a obra.
Dias depois, Javé viu a sua Infinita Paciência abalada pela notícia de que os querubins, mais politizados, organizados no sindicato angélico, haviam entrado em greve. Sem temer afrontas, compareceu à assembléia da categoria:
- Por todos os santos, qual é a reclamação agora?
- Os serafins têm razão, Senhor – explicou o líder. – O projeto é realmente injusto. Não podemos prossegui-lo.
- Ora, o que há de errado em criar países com dimensões distintas? Retrucou Javé. – A um continente quadriculado, prefiro a diversidade, como fiz com as espécies de vida.
- Não se trata de proporcionalidade territorial – disse o anjo. – Preocupam-nos os fenômenos naturais destinados a cada país. – Veja Senhor: há desertos no Chile, no Peru e no México; no Brasil, nenhum. Vulcões na Nicarágua e furacões em Cuba: no Brasil, nenhum. Terremotos no Peru, na Guatemala, na Nicarágua, em El Salvador e no México; no Brasil, nenhum. Neve e geleiras em toda a região andina; no Brasil, apenas um neviscar, três noites por ano em São Joaquim (SC), para atrair turistas.
Outro completou:
- Nós da direção sindical, desconfiamos que, após o fracasso do Èden, o Senhor nutre a intenção de reeditar o Paraíso no Brasil.
- Valha-me Deus! - Exclamou Javé. - Expliquem melhor.
- O Èden não faliu por causa de uma maldita árvore? Entre os países, o Brasil é dos raros com nome de vegetal. Dadas as suas dimensões continentais, a ausência de qualquer catástrofe natural e os imensos recursos a ele reservados, concluímos que o Senhor pretende reinaugurar ali o Paraíso, não é verdade? Ou como explicar o projeto de conferir ao Brasil um excelente clima tropical; a maior bacia hidrográfica do mundo; oito mil quilômetros de costa; uma floresta que absorverá boa parte do dióxido de carbono da atmosfera; mais de 600 milhões de hectares cultiváveis e potencial para três safras por ano?
Javé cofiou a longa barba e admitiu:
- Sim, confesso, tive a intenção de abençoar o Brasil de modo especial. Mas sei, por minha onisciência, que lá, por muitos anos, não será o Paraíso. Esperem só pra ver que tipo de políticos aquela gente haverá de eleger. O estrago, ao menos nos primeiros séculos após a chegada de Cabral, será muito grande: haverá miséria, desigualdade, discriminação, corrupção e violência. Crianças abandonadas andarão ameaçadoras pelas ruas e agricultores ficarão à beira de rodovias à espera de um pedaço de terra. Como não perco a esperança, pode ser que, um dia, os eleitores descubram que, ao votarem a favor da justiça social, o Brasil estará muito perto se vir a ser um Paraíso.
Frei Beto


PROFESSORES EM AÇÃO

Criação de uma história maluca, com base em uma atividade do AAA6.



Flashes

Um homem. Uma mulher. Uma conexão à internet. Um bate papo animado. Um convite inesperado. Que tal um banho na minha piscina? Está pronta, com espuma e tudo mais. Agora a massagem: ativa o prazer. Deu fome: torta de maçã, café...
Um ano depois. Um homem, dois filhos. Uma família feliz!

                                                                                                                                                             (Cláudia Valéria e César Marques)






Professoras Lília, Ana Lúcia e Teresa


20 outubro, 2009

PAUTA 9 (SEMANA DE 14 A 19 DE OUTUBRO)

TP 6 - PROCESSOS DE LEITURA E ESCRITA II

O caderno de Teoria e Prática 6, que tem corpo e saúde como tema transversal, continua o trabalho com gêneros com o estudo da argumentação, além de retomar a produção textual, tratando das fases de planejamento, escrita, revisão e edição de textos, e propõe tópicos sobre literatura para adolescentes 

Foi elaborado com o intuito de alcançar os objetivos elencados a seguir: focalizar a argumentatividade e a diversidade de argumentos utilizados para demonstrar uma ideia, e os defeitos mais frequentes na organização de textos argumentativos e suas soluções; vivenciar as etapas da produção textual, refletindo sobre estratégias utilizadas no planejamento, escrita, revisão e edição textual; sistematizar atividades e discussões sobre literatura para adolescentes. 

Assim como todos os outros, O TP6 apresenta textos de variados gêneros. As Atividades de Apoio à Aprendizagem – AA6 são melhor desenvolvidas que aquelas propostas nos Avançando na Prática, que, por sinal, deixam a desejar em relação à própria proposta do Programa GESTAR II.  

No que diz respeito à base teórica, o TP6 está bem elaborado e as atividades idealizadas para o estudo individual do cursista podem ser levadas também para as salas de aula e oferecidas aos nossos alunos em lugar dos Avançando.



CONSIDERAÇÕES








LEITURA DELEITE

  Ler devia ser proibido (Guiomar de Grammom)
«A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.
Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.
Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?
Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.
Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.
Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.
O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observe as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?
É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metros, ou no silêncio da alcova… Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.
Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.
Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.
Além disso, a leitura promove a comunicação de dores e alegrias, tantos outros sentimentos… A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.
Ler pode tornar o homem perigosamente humano.»













PROFESSORES EM AÇÃO






AVALIAÇAO






GESTAR NA SALA DE AULA

15 outubro, 2009

Homenagem ao Dia dos Mestres

O professor trabalha para suprimir a figura do aluno enquanto aluno, isto é, o trabalho pedagógico se efetua para fazer com que a figura do estudante desapareça. Para isto, o professor precisa fazer um esforço cotidiano para que seu lugar permaneça vazio, pois seu trabalho é tornar possível o preenchimento desse lugar por todos aqueles que estão excluídos dele e aspiram por ele e pelo qual não poderiam aspirar se já estivesse preenchido por um senhor e mestre (..). A relação professor-aluno é assimétrica e sem diálogo: este se torna possível quando o aluno desaparece e em seu lugar existe um novo professor. O diálogo (...) se torna real quando o trabalho pedagógico termina e o professor encontra-se com o não-aluno, o outro professor, seu igual (...) o lugar do professor está vazio, pois seu ocupante ali se encontra para deixá-lo através de seu próprio trabalho (Chauí, 1980, p. 39)


10 outubro, 2009

PAUTA 8 (SEMANA DE 05/10 A 10/10)

TP5 - ESTILO, COERÊNCIA E COESÃO



LEITURA DELEITE
A Moça Tecelã
Por Marina Colasanti

Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.

20 setembro, 2009

0FICINA 7 (SEMANA DE 14/09 A 19/09

TP5 - ESTILO, COERÊNCIA E COESÃO








CONSIDERAÇÕES









LEITURA DELEITE

Feijoada à minha moda  
(Vinicius de Moraes)
Amiga Helena Sangirardi

Conforme um dia prometi

Onde, confesso que esqueci

E embora — perdoe — tão tarde

(Melhor do que nunca!) este poeta

Segundo manda a boa ética

Envia-lhe a receita (poética)

De sua feijoada completa.

Em atenção ao adiantado

Da hora em que abrimos o olho

O feijão deve, já catado

Nos esperar, feliz, de molho

E a cozinheira, por respeito

À nossa mestria na arte

Já deve ter tacado peito

E preparado e posto à parte

Os elementos componentes

De um saboroso refogado

Tais: cebolas, tomates, dentes

De alho — e o que mais for azado

Tudo picado desde cedo

De feição a sempre evitar

Qualquer contato mais... vulgar

Às nossas nobres mãos de aedo.

Enquanto nós, a dar uns toques

No que não nos seja a contento

Vigiaremos o cozimento

Tomando o nosso uísque on the rocks

Uma vez cozido o feijão

(Umas quatro horas, fogo médio)

Nós, bocejando o nosso tédio

Nos chegaremos ao fogão

E em elegante curvatura:

Um pé adiante e o braço às costas

Provaremos a rica negrura

Por onde devem boiar postas

De carne-seca suculenta

Gordos paios, nédio toucinho

(Nunca orelhas de bacorinho

Que a tornam em excesso opulenta!)

E — atenção! — segredo modesto

Mas meu, no tocante à feijoada:

Uma língua fresca pelada

Posta a cozer com todo o resto.

Feito o quê, retire-se o caroço

Bastante, que bem amassado

Junta-se ao belo refogado

De modo a ter-se um molho grosso

Que vai de volta ao caldeirão

No qual o poeta, em bom agouro

Deve esparzir folhas de louro

Com um gesto clássico e pagão.



Inútil dizer que, entrementes

Em chama à parte desta liça

Devem fritar, todas contentes

Lindas rodelas de lingüiça

Enquanto ao lado, em fogo brando

Dismilingüindo-se de gozo

Deve também se estar fritando

O torresminho delicioso



Em cuja gordura, de resto

(Melhor gordura nunca houve!)

Deve depois frigir a couve

Picada, em fogo alegre e presto.

Uma farofa? — tem seus dias...

Porém que seja na manteiga!

A laranja gelada, em fatias

(Seleta ou da Bahia) — e chega

Só na última cozedura

Para levar à mesa, deixa-se

Cair um pouco da gordura

Da lingüiça na iguaria — e mexa-se.

Que prazer mais um corpo pede

Após comido um tal feijão?

— Evidentemente uma rede

E um gato para passar a mão...

Dever cumprido. Nunca é vã

A palavra de um poeta...— jamais!

Abraça-a, em Brillat-Savarin

O seu Vinicius de Moraes


 CURSISTAS EM AÇÃO






AVALIAÇÃO

04 julho, 2009

OFICINA 6 (Semana de 29/06 a 04/07)

TP4 - LEITURA E PROCESSOS DE ESCRITA I
O caderno de Teoria e Prática 4, tem como tema transversal a relação entre cultura e os usos sociais e as funções da escrita nos contextos em que vivemos e sua importância para o ensino. A relação entre a escrita que a escola prática e as necessidades sociais da escrita, ou seja, a escrita na perspectiva do letramento é destaque neste caderno. Os objetivos principais são: a reflexão sobre os usos e as funções da escrita nas práticas do cotidiano e a relação do letramento com as práticas culturais.
A partir da discussão de um tema transversal e da busca de novos conhecimentos utiliza diferentes textos e propõe as mais variadas possibilidades de atividades de leitura e escrita.
Dando continuidade ao estudo com os gêneros, trabalha o ensino da escrita como processo de produção e sua relação com situações sociocomunicativas reais. Este TP deixa claro que quando se trabalha com o processo, o ensino é construído gradativamente por meio de atividades que ajudam o aluno passo a passo a desenvolver a autoria, a organização, o planejamento e a revisão dos textos por ele produzido.
Em relação ao aspecto teórico, pode-se dizer que existe a falta de textos com maior fundamentação teórica em relação ao letramento.
As atividades atendem à proposta do Gestar e às necessidades dos cursistas, tanto as atividades do caderno de teoria e prática, quanto às dos AAAs.
Uma variedade de gêneros compõe o TP4, mas, apesar disso, existe uma grande diferença em relação ao TP3, que considerei como melhor em todos os aspectos.







CONSIDERAÇÕES





LEITURA DELEITE

Trecho do livro: Capitães da Areia 

João José, o professor, desde o dia em que furtara um livro de histórias numa estante de uma casa da Barra, se tornara perito nestes furtos. Nunca, porém, vendia os livros, que ia empilhando num canto do trapiche, sob tijolos, para que os ratos não os roessem. Lia-os todos numa ânsia que era quase febre. Gostava de saber coisas e era ele quem, muitas noites, contava aos outros histórias de aventureiro, de homens do mar, de personagens heroicos e lendários, historias que faziam aqueles olhos vivos se espicharem para o mar ou para as misteriosas ladeiras da cidade, numa ânsia de aventuras e de heroísmo. João José era o único que lia corretamente entre eles e, no entanto, só estivera na escola ano e meio. Mas o treino da leitura despertara  completamente sua imaginação e talvez fosse ele o único que tivesse uma certa consciência do heroico de suas vidas. Aquele saber, aquela vocação para contar histórias, fizera-o respeitado entre os Capitães da Areia, se bem fosse franzino, magro e triste, o cabelo moreno caindo sobre os olhos apertados e míope. Apelidaram-no de professor porque num livro furtado aprendera a fazer mágicas com lenços e níqueis e também porque, contando aquelas histórias que lia e muitas que inventava, fazia a grande e misteriosa mágica de os transportar para mundos diversos, fazia com que os olhos vivos dos Capitães da Areia brilhassem como só brilham as estrelas da noite da Bahia. (...)

Jorge Amado

GESTAR NA SALA DE AULA







AVALIAÇÃO







17 junho, 2009

OFICINA 5 (Semana de 17 a 22/06)

Nesse encontro, tivemos por objetivos refletir sobre a importância do letramento para o ensino da leitura e da escrita do 6° ao 9° ano de escolaridade, e produzir atividades de leitura e escrita. Propusemos o estudo do texto Letramento - Você pratica?, a partir do qual  foi promovido um debate.

CONSIDERAÇÕES














LEITURA DELEITE

O QUE É LETRAMENTO?

Letramento não é um gancho

em que se pendura cada som enunciado,
não é treinamento repetitivo
de uma habilidade,
nem um martelo
quebrando blocos de gramática.
Letramento é diversão
é leitura à luz de vela
ou lá fora, à luz do sol.
São notícias sobre o presidente
O tempo, os artistas da TV
e mesmo Mônica e Cebolinha
nos jornais de domingo.
É uma receita de biscoito,
uma lista de compras, recados colados na geladeira,
um bilhete de amor,
telegramas de parabéns e cartas
de velhos amigos.
É viajar para países desconhecidos,
sem deixar sua cama,
é rir e chorar
com personagens, heróis e grandes amigos.
É um atlas do mundo,
sinais de trânsito, caças ao tesouro,
manuais, instruções, guias,
e orientações em bulas de remédios,
para que você não fique perdido.
Letramento é, sobretudo,
um mapa do coração do homem,
um mapa de quem você é,
e de tudo que você pode ser.



GESTAR NA SALA DE AULA

AVALIAÇÃO

08 junho, 2009

Leitura Deleite / Receita de olhar


Nas primeiras horas da manhã desamarre o olhar
deixe que se derrame sobre todas as coisas belas
o mundo é sempre novo e a terra dança e acorda
em acordes de sol.
Faça do seu olhar imensa caravela.

Roseana Murray

OFICINA 4 (Semana de 08 a 13 de junho)

Essa oficina teve como objetivo de explicitar a ideia de que os textos se realizam em gêneros e os tipos se organizam dentro dos gêneros. Mais uma vez procuramos orientar os professores quanto à necessidade de estimular a  produção escrita dos alunos.


CONSIDERAÇÕES

Essa pauta foi apenas um complemento da oficina realizada anteriormente, devido às modificações por que passaram as turmas nesse período. Por conta do esvaziamento das turmas, o curso passou a ser oferecido dentro da carga horária do cursista, ocasionando a reconfiguração das turmas.


LEITURA DELEITE

Receita de olhar  (Roseana Murray)



GESTAR NA SALA DE AULA









AVALIAÇÃO

"Foi numa noite de segunda
 que viemos estudar
 buscando novas técnicas
 para nos aperfeiçoar
 com duas professoras bacanas,
 dinamizadoras do Gestar."
                                                      (Maria Angélica e Rosiany - Cordel)




25 maio, 2009

OFICINA 3 (Semana de 25/05 a 06/06)

 TP3 - GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS

O objetivo dessa oficina era caracterizar sequências tipológicas narrativas, descritivas, injuntivas, preditivas e dissertativas, o que foi possível a partir do estudo realizado dos textos teóricos adicionais e daqueles que se encontram no próprio TP. Propusemos, ainda, a leitura e análise do texto Composição: O salário mínimo, para o qual os cursistas, organizados em dois grupos,  deveriam enumerar argumentos que sustentassem a ideia de que o texto era um exercício de redação escolar ou não. Além disso, sugerimos a elaboração de atividades leitura, escrita e produção textual com base em diferentes tipos e gêneros.


CONSIDERAÇÕES
Percebemos que o grupo diminuiu consideravelmente. Apesar de terem compreendido a dinâmica do curso e tecerem elogios à sua proposta, os professores não conseguiram dar conta dos trabalhos solicitados pelo tempo que demandam e pelo curso acontecer fora do seu horário de trabalho.



LEITURA DELEITE

Um conto de fadas revisado

Em uma linda manhã de sol – em nenhum outro reino distante nasceria tal manhã esplendorosa depois de uma noite de tormenta – Aninha aguardava a carruagem que a levaria à Escola Classe 501. A sua frente, a exuberância do reino se espalhava em formas retorcidas, em verde revivido, em frutos polpudos, em tímidas flores de cetim. Ah! o cerrado das primeiras águas de setembro! Ah! as canelas d’ema azulando o planalto, ah! os frutos do araticum!

A vista do cerrado, com seus infinitos tons de verde apontando para grande pedra azul turquesa, fascinava! O cerrado das pequenas flores escondidas, do susto de cachoeiras, do adocicado perfume de cajuzinhos oferecia-se gratuito ao olhar da nossa princesa-professora. Esse era o seu paraíso privado.

Não, não. O suntuoso e distante reino de Samambaia em nada lembra os feudos medievais nem os idílicos bosques europeus do século XVIII. Estamos no seio da urbe. Samambaia é uma cidade celular que cresceu, taluda e torta, nos arredores da Ave Branca. A paisagem descrita? Também não estamos na zona rural, trata-se apenas de uma amostra do cerrado que convive harmônica e gentil com as casas desbotadas. Os meninos pequenos chamam essa reserva de matagal – meninos maus!

Voltemos a nossa heroína. Ana esperava a condução para o trabalho quando teve o seu justíssimo vestido de lese branca salpicado de lama – não era a poesia. Tratava-se de uma enorme falta de educação cometida pelo herói da história. O carro novo de Oto ainda não havia reconhecido as crateras sagradas do reino, o que acarretou num banho recebido, involuntariamente, pela princesa Ana.

- Oh! linda e branca (ops!) senhorita, como posso ajudá-la neste momento de tão grande desconforto?

- Certamente não é com essa sua conversinha empolada, príncipe mais desastrado!

- Você me perdoaria se eu a levasse a minha casa pra tomar um banho imodesto na minha ducha mega-plus-ultra-sensation?

- Você só pode estar brincando, seu maníaco, tarado!

- Mais uma vez eu peço o seu perdão, princesa, pela precariedade dos meus recursos comunicativos. E como prova das minhas boas intenções, ofereço-me para levá-la ao seu castelo e aguardá-la até que se livre desse inconveniente causado por mim.

- Sendo assim, vou aceitar a sua oferta. Afinal, não posso ficar aqui a manhã inteira esperando a carruagem imperial para me levar ao trabalho. Os meus alunos devem estar mofando na fila de entrada e os pais, aflitos para voltar às suas obrigações.

- Você é professora! Mas que nobre profissão!

- Nisso estamos de acordo. Vamos.

Os dois saíram rumo à casa da Aninha. No caminho, o cavalheiro gentil pôde se apresentar adequadamente. Falou da vida profissional – era da Polícia Federal, trabalhava no combate ao uso abusivo de cogumelos reais e outras plantas alucinógenas. Se era favorável ao plantio das florestas de Atropa Belladonna? Sim, sim, desde que para uso medicinal e para fruição estética, afinal, como eram belas as belladonnas em seus chapéus de fada!

- Bendita lama! Benditas crateras reais! Aninha pensava enquanto se livrava do vestido sujo.

A mãe, que doravante seria chamada por Oto de a sogra, não gostara nada daquilo. Como poderia uma futura rainha entrar no carro de um desconhecido, ainda mais de um lindo e loiro desconhecido? Sua filha perdera o juízo e a culpa não era da mãe!

Muito rapidamente, Aninha saiu do seu quarto com um vestido de algodão ainda mais branco, e mais justo, e mais sedutor. Oto não piscava, mas babava. Desculpou-se pela poça que fizera surgir no meio da sala – explicando que se tratava de uma baba muito pura e cheia de boas intenções.

A mãe continuava sem aprovar aquela presença cheia de hormônios no centro do seu modesto castelo.

Ana despediu-se da mãe, entrou no carro de Oto e foi levada direto pra escola. No caminho, falaram mais um pouco de suas vidas. Ana gabou-se de ser professora, era muito feliz com o que fazia.

Ele foi. Ela ficou. Na escola, a aula transcorreu sem anormalidades, Joãozinho confirmando sua vocação para as piadas, Mariazinha, idem.

Fim da aula – quem aparece com o cavalo branco na porta da escola? Ele mesmo, o príncipe fogoso. Nós vamos direto? Direto. No caminho, muito curto, só conseguiram ouvir o refrão do Chico: “e foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouviam mais...”

No segundo encontro, o príncipe estava ainda mais ousado, e lindo, e forte, e tatuado. Meu Deus...

No terceiro dia, no quarto dia, no quinto dia, no sexto dia...

No sétimo dia, ambos suspiravam apaixonados e, convenhamos, um tanto cansados. Olharam-se, mas os olhos de Oto anunciavam um desfecho que não culminaria nem na Igreja São José nem na igreja do Barquinho.

-Sou casado.

- O quê?

-Sou casado, mas não sou mau caráter. O amor, meu amor, está acima do bem e do mal.

Choro. Muito choro.

- Me perdoa o egoísmo. É que minha esposa está doente. Há muito tempo eu cuido dela e, sabe como é, eu estava precisando de alguém que cuidasse um pouco de mim.

- Desgraçado. Príncipe de merda. Você sabotou o meu final feliz. Maldição! O que será agora dos contos de fadas?

Enquanto contava a verdade para a ex-primeira-rainha, a esposa, Amabile, descobria o adultério qualificado lendo as mensagens de texto no celular que Oto esquecera em casa.

Quando Oto apontou no portão do seu castelo, Amabile imediatamente pediu a anulação do casamento – o reino de Samambaia ainda não havia introduzido o divórcio nas suas sacras leis.

- Não vou fazer isso, Amabile. Eu amo você também.

- Não seja infantil.

- Vou promover um duelo. Aquela que ganhar será minha dona – para sempre.

- Não seja imaturo. Vamos conversar como três pessoas civilizadas e decidir o que fazemos.

Marcaram o encontro para o mesmo dia, às 9 horas, em frente à Casa de banhos.

- Blá-blá-blá-blá-blá-blá!!!

- Blá-blá-blá.

- Blá?

- Então eu passo um tempo com Oto, enquanto o meu tio, o Doutor Américo, cuida de você. Vou pedir para que ele a submeta à terapia do óleo de pequi. Há dez anos que titio vem desenvolvendo testes com libélulas e borboletas e a pesquisa tem apresentado grandes avanços e bons resultados.

- Isso é que é solidariedade feminina, é claro que aceito. Quando eu estiver totalmente curada da minha doença, certamente sua paixão por Oto terá desaparecido. Afinal, ele não é lá grande coisa, o que só se descobre com o tempo. Nesse período, eu vou preparando a minha volta triunfal, afinal, este é o meu conto de fadas e não o seu.

- Isso é que é solidariedade feminina, eu aceito os termos da proposta.

As profecias se cumpriram para Amabile, que se curou da doença, mas não para Ana, que continuou apaixonada. Meses se passaram... Mas um conto de fadas que se preza não vai deixar ninguém na mão, não é mesmo?

A verdade é que Amabile não se curou exatamente por causa das propriedades terapêuticas do pequi. Dois anos no interior de um sítio goiano, tomando banho de córrego, comendo araticum, jatobá, frango com guariroba deixa qualquer pessoa saudável. Além do mais, o viúvo Américo não dispensou a sua sabedoria caipira no preparo dos alimentos: a cada refeição, um beijinho de estimação. Ficava sempre grato com a obediência sábia de Amabile.

Quanto à Ana e Oto, os dois incuráveis apaixonados, a última vez que os vi foi na cerimônia de casamento de Amabile e Américo.

E quatro foram felizes para sempre...



Argumento: cursistas do módulo 1,

turma “C”, Samambaia;

Professora Cida.



PRODUÇÃO DOS CURSISTAS







AVALIAÇÃO

"Hoje (a oficina) foi mais dinâmica, pois houve o relato das leituras e atividades feitas com troca de experiências. O grupo já compreendeu o ritmo dos estudos, não houve dispersão"  (Izis)

"Considero o encontro de hoje muito bom , pois pudemos debater os assuntos tratados no livro e também trocar ideias de como trabalhá-los de forma ainda mais produtiva do que a apresentada no TP"   (Ana Cecília)