04 abril, 2009

OFICINA 1 (Semana de 06 a 11 de abril)

 TP3 - GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS


A princípio, houve a apresentação dos formadores e cursistas, a partir dos três principais marcos da sua vida profissional. A seguir, apresentamos o todo o material do Gestar e, em particular, como se estruturam os cadernos de Teoria e Prática, além da organização de todo o curso. Fizemos um breve estudo da Unidade 9, na qual destacamos a importância do conhecimento prévio dos alunos e a necessidade de trabalhar as dificuldades que professores e alunos encontram em relação à classificação dos gêneros textuais.

CONSIDERAÇÕES

Observamos grande dificuldade por parte dos cursistas no que diz respeito à classificação de gêneros e tipos textuais e ao trabalho efetivo com gêneros em sua prática diária de sala de aula. Diante disso, oferecemos textos teóricos diversos que tratassem do assunto em questão a fim de ampliar seus conhecimentos.

LEITURA DELEITE

“Era uma vez...”
desde antes e para sempre
(Trecho da história de uma professora-leitora)

“Há uma certa imaginação infantil
que é precioso guardar por toda a vida.”


Conta-nos Malba Tahan que houve, outrora, na Babilônia, um alfaiate chamado Enedim, que, enquanto costurava, perdia-se em devaneios. Ah! Quem me dera encontrar um tesouro... Costurar causava-lhe dor nas costas, era preciso curvar-se sobre o pano em cima da mesa rústica para riscar os moldes; enfiar a linha na agulha à luz do candeeiro já lhe doía as vistas — era uma canseira sem fim, dia e noite, todo dia.
Ora, uma tarde, parou-lhe à porta de casa um mercador que vendia uma variedade de coisas. Remexendo o baú sortido, Enedim descobriu um livro grosso, cujo título despertou-lhe o interesse: “O segredo do tesouro de Bresa”. O livro era uma preciosidade, custava caro. Depois de pechinchar com o vendedor, ficou-lhe por duas moedas. Foi um sacrifício para o alfaiate desembolsá-las, lembrando-se, porém, de que “mais vale um gosto do que um vintém”. Logo, começou a folhear o livro e conseguiu decifrar na primeira página a seguinte legenda:

“O tesouro de Bresa enterrada pelo gênio do mesmo
nome entre montanhas da Harbatol,
foi ali esquecido e ali ainda se acha,
até que alguém esforçado venha a encontrá-lo”.

Com o coração a bater descompassado, o tecelão dispôs-se a decifrar todas as páginas daquele livro misterioso, em busca de pistas que indicassem o caminho a ser percorrido. Enedim teve de estudar muito e à medida que avançava na leitura, acumulava conhecimentos diversificados, o que lhe possibilitou, depois de certo tempo, deixar o velho ofício para ocupar cargos importantes no reino, tornando-se dono de grande fortuna e prestígio social.
Mas, coisa curiosa, Enedim não conseguiria desvendar o segredo do livro, embora o houvesse relido tantas vezes. Qual caminho deveria seguir para encontrar o tesouro oculto de Bresa? — ele se perguntava inquieto. Resolveu consultar um sábio que lhe desvendasse aquele enigma:
— Que estaria contido na palavra BRESA?
— Como chegar às montanhas de HARBATOL?
Eis a resposta do sábio: “O tesouro de Bresa já está em vosso poder, meu senhor. Graças à leitura, com trabalho adquiristes grande saber, e esse saber vos proporcionou os bens que possuís”.
O alfaiate dessa história possuía a fonte do conhecimento, pôde rebuscá-la em todas as direções e sentidos, adentrando-se em mergulhos cada vez mais profundos. Tornou-se um homem notável e respeitado, mas, no íntimo, permanecia insatisfeito. Seu desejo maior, e não o alcançara, era decifrar o verdadeiro significado da legenda inicial do livro. Entretanto o sábio, senhor de muitas leituras, que se habituara a ler o Universo e em seu contexto ampliar a leitura dos homens, conduziu Enedim à reflexão, ao conhecimento de si mesmo, ao encontro do próprio eu. No momento em que decifrou os anagramas contidos nas palavras BRESA e HARBATOL, fluiu para o seu interior o verdadeiro sentido da leitura.
Aquele não era um livro apenas informativo. Em seu discurso utilitário estava implícito o discurso estético. “O segredo do tesouro de Bresa” continha em seu conteúdo forte incentivo à continuidade da leitura, mas elaboração artística é que possibilitou a compreensão de seu significado simbólico, permitindo ao leitor usufruir a plenitude do prazer. Só então o nosso antigo alfaiate incorporou a leitura à sua vida, só aí verdadeiramente ele enriqueceu, podendo ver-se refletido na limpidez daquela fonte: quem era ele afinal, sua capacidade de trabalho, tenacidade e esforço, as grandes conquistas que empreendera em seu próprio benefício e em benefício da comunidade.
Outra reflexão leva-nos a inquirir: — Que significa o livro para cada um de nós? Por que ler?
Se vários são os motivos e nossa decisão muito tem de pessoal, nesse caso teríamos o direito de escolher nossas leituras. Cada indivíduo tem sua própria história de leitura, e isto é que irá determinar, conforme as circunstâncias, a maior ou menor influência de um livro sobre sua vida.
Em “Confissões”, Rousseau declara: “Não sei como aprendi a ler; lembro-me apenas de minhas leituras e de seus efeitos sobre mim: é a partir desse momento que dato, sem interrupção, minha consciência de mim mesmo”.
De minha parte, aprendi a ler, escrevendo. Com letrinhas de massa de sopa, guardava numa caixa de fósforos, não completara ainda cinco anos de idade. Sentava-me ao lado de minha avó e ia perguntando-lhe o nome das letras. Enquanto mastigava algumas ou as deixava escapar por entre os dedos, guardava-as na memória. E logo queria saber mais: — Que letras formavam o nome de meu pai, por exemplo.
Minha avó, olho na costura que fazia, olho em mim, respondia, pausadamente, observando meus movimentos:
— A N T O N I O. Antônio!
Emoção inesquecível. Então isso era ler! Isso era escrever! Era o que eu mais queria, tal o fascínio que exercia sobre mim a expressão do rosto de minha avó enquanto lia jornais, livros, folhetins romanceados. Encantada, eu a via, mexendo a panela no fogo, colher de pau numa das mãos, o livro na outra. Esta lembrança é mais forte do que o cheiro da canela e do cravo que temperavam o mingau...
Esse foi um começo assinalado pelas histórias que me contavam as mulheres da família, pelas cantigas de ninar que me embalavam:

Sua bênção, dindinha lua,
Me dê carne com farinha
Para dar ao meu gatinho
Que está preso na cozinha
É de rin-fã-fão...
É da cor de limão
É de Nossa Senhora da Conceição...

Era muito pequena ainda, no colo de minha avó, sentada na varanda, eu via a lua lá no alto, aquela lua que me parecia tão misteriosa, aparecia, sumia... Chamá-la de “dindinha”, pedir-lhe a bênção, ah! Fez aproximar-me do céu. Sabia também que não tinha gato nenhum na cozinha, mas podia imaginá-lo sem me dar conta do que era imaginar. Adormecia alimentada de fantasia. Costumo dizer que deve ter sido aí que nasceu a contadora de histórias e, certamente, a idéia de entremeá-las com o canto.
Entrei na escola, sabendo ler e escrever. Escrevia com a pena número 12 da caneta fininha que molhava no tinteiro de vidro. Quantos banhos de tinta tomei... O bom é que a professora lia pra gente. Se poucos eram os livros naquela época, havia os de Monteiro Lobato. Aos sete anos, reli tantas vezes “O saci” que decorei o texto. Aos doze, apaixonei-me pelo “Robinson Crusoé”, que li de um fôlego. Para mim, ler significou, sempre, abrir todas as comportas para entender o mundo através dos olhos dos autores e suas personagens. Ler é a única paixão de minha vida que não arrefeceu com o passar dos anos.
Quanto ao “Era uma vez” da carreira profissional, aconteceu na sala de aula da escola pública, onde iniciei ensinando a ler. Filhos de analfabetos, que significaria para aquelas crianças a expectativa de ir à escola? Na primeira hora do primeiro dia de aula, contava-lhes um a história. Contar histórias, diariamente, aos meus alunos, fortalecia-me e permitia estabelecer o vínculo afetivo, indispensável ao processo de aprendizagem, ao tempo que os iniciava na técnica da leitura pelo desenvolvimento da percepção dos sentidos. O progresso que faziam era o grande incentivo à jovem professora. Se queria ajudá-los, tinha que ficar atenta, ler muito, estudar bastante, reconhecer os desafios. Então, descobri: Contar histórias é dar as mãos uns aos outros e ir ao encontro da fantasia, resgatando a própria infância.
Assim foi durante décadas. Assim tem sido num crescendo ininterrupto. O convívio com as crianças e gente grande também, observando suas reações e preferências, fez-me fazer desenvolver um processo perceptivo que, ao longo do tempo, permite-me fazer novas descobertas, das quais decorrem as inovações que introduzo, sem afastar-me, porém, da essência do ato de narrar. Leituras posteriores de psicólogos, psicanalistas, antropólogos, confirmam e fundamentam esse procedimento. Reconheço que a intuição, hoje privilegiada nos estudos científicos, teve um papel preponderante na evolução do processo que se pretende calcado na sensibilidade. Muitas vezes, surpreendo-me a escutar minha própria alma, quando me pergunto: Como surgiu tal ideia? O que me ocorre ao ler uma história e, de modo imediato, saber a melhor forma de aproveitar seus recursos lúdicos? E as cantigas que os personagens me inspiram, de onde vêm? Ah! De onde vêm? Da energia que emana da própria história. Importante é captá-la e adentrar-se na trama pela porta da escuta interior.
Descobri, pois, que contar histórias implica uma complexidade de emoções que decorrem da identificação com o que se conta. As histórias conferem movimento ao imaginário. Expandem-se por vias diversas, variam de rumo pelo mundo inteiro. E, de quando em vez, acenam aos contadores, incentivando-os a prosseguirem, preservando a tradição oral. É o que eu chamo de a universidade dos contadores de história.
Num conto de Edmir Perrotti, “O bordado encantado”, há uma frase singular da rainha das fadas, ao explicar o sumiço de um raro bordado: “Quando alguém cria uma nova técnica, as fadas são obrigadas a aprendê-la para inspirar outras bordadeiras. Como não podemos deixar a montanha, peço ao vento para ir buscar o bordado”.
Isso se aplica a todos aqueles que, criativamente, desenvolvem um fazer artístico. Contadores de histórias e bordadeiras assemelham-se. Enquanto estas tecem peças com fios de linha, aqueles tomam fios imaginários e constroem tessituras que fazem aflorar os arquétipos da sensibilidade humana. Daí, contar histórias é resgatar a memória dos ancestrais que permanece em nosso inconsciente e, a qualquer momento, pode emergir ao nível consciente, ajudando-nos a encontrar soluções para os nossos conflitos.
Em “A teia da vida”, Fritjof Capra, renomado físico e filósofo da atualidade, afirma que “A procura pelo ancestral do homem é a procura pelo contador de história, pelo artista”, premissa que reacende nossa reflexão vinda da prática e pode-se concluir: Ao olharmos para a vida, olhamos para redes que se interligam.
Falar em rede faz-me pensar em livros que nos envolvem no entremeio de suas tramas. Palavras são assim: uma vai puxando outra, como fios que se entrelaçam e criam novas tessituras, criativas, coloridas, de admirável textura. Com palavras, o homem criou mitos de inigualável beleza, que constituem a origem da literatura. E se a palavras LEITURA não forma um anagrama, dada a clareza de sua expressão, é preciso recorrer-se à literatura, como valioso instrumento na formação de leitores.
Afinal, da literatura infantil à leitura é um passo de gigante com botas de sete léguas. Disso eu posso dar testemunho e o faço convicta da importância da leitura em nossa vida.

Maria Betty Coelho Silva, baiana de Alagoinhas,autora de livros infantis e professora universitária.

AULA INAUGURAL (04/04/2009)

 NOSSO PRIMEIRO ENCONTRO...


Iniciamos a aula inaugural com a apresentação do vídeo O SABOR DO SABER, pois é uma prática nossa, em todas as formações das quais participamos, começar cada encontro com uma leitura a que chamamos leitura deleite. A seguir, apresentamos a equipe formadora do GESTAR II, Língua Portuguesa e Matemática, o material e o programa. Dando sequência ao encontro, a professora Doutora Marisa Leal, do Instituto de Matemática da UFRJ, nos brindou com uma brilhante palestra, na qual Língua Portuguesa e Matemática foram trabalhadas de forma interdisciplinar, segundo a proposta do Programa GESTAR.

CONSIDERAÇÕES

Na nossa avaliação, o número de professores presentes esteve aquém do esperado, apesar do nosso esforço em divulgar o curso, talvez pelo fato de o encontro ter ocorrido num sábado, e ser oferecido fora da carga horária do professor.

O Saber e o Sabor - parte 1