25 maio, 2009

OFICINA 3 (Semana de 25/05 a 06/06)

 TP3 - GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS

O objetivo dessa oficina era caracterizar sequências tipológicas narrativas, descritivas, injuntivas, preditivas e dissertativas, o que foi possível a partir do estudo realizado dos textos teóricos adicionais e daqueles que se encontram no próprio TP. Propusemos, ainda, a leitura e análise do texto Composição: O salário mínimo, para o qual os cursistas, organizados em dois grupos,  deveriam enumerar argumentos que sustentassem a ideia de que o texto era um exercício de redação escolar ou não. Além disso, sugerimos a elaboração de atividades leitura, escrita e produção textual com base em diferentes tipos e gêneros.


CONSIDERAÇÕES
Percebemos que o grupo diminuiu consideravelmente. Apesar de terem compreendido a dinâmica do curso e tecerem elogios à sua proposta, os professores não conseguiram dar conta dos trabalhos solicitados pelo tempo que demandam e pelo curso acontecer fora do seu horário de trabalho.



LEITURA DELEITE

Um conto de fadas revisado

Em uma linda manhã de sol – em nenhum outro reino distante nasceria tal manhã esplendorosa depois de uma noite de tormenta – Aninha aguardava a carruagem que a levaria à Escola Classe 501. A sua frente, a exuberância do reino se espalhava em formas retorcidas, em verde revivido, em frutos polpudos, em tímidas flores de cetim. Ah! o cerrado das primeiras águas de setembro! Ah! as canelas d’ema azulando o planalto, ah! os frutos do araticum!

A vista do cerrado, com seus infinitos tons de verde apontando para grande pedra azul turquesa, fascinava! O cerrado das pequenas flores escondidas, do susto de cachoeiras, do adocicado perfume de cajuzinhos oferecia-se gratuito ao olhar da nossa princesa-professora. Esse era o seu paraíso privado.

Não, não. O suntuoso e distante reino de Samambaia em nada lembra os feudos medievais nem os idílicos bosques europeus do século XVIII. Estamos no seio da urbe. Samambaia é uma cidade celular que cresceu, taluda e torta, nos arredores da Ave Branca. A paisagem descrita? Também não estamos na zona rural, trata-se apenas de uma amostra do cerrado que convive harmônica e gentil com as casas desbotadas. Os meninos pequenos chamam essa reserva de matagal – meninos maus!

Voltemos a nossa heroína. Ana esperava a condução para o trabalho quando teve o seu justíssimo vestido de lese branca salpicado de lama – não era a poesia. Tratava-se de uma enorme falta de educação cometida pelo herói da história. O carro novo de Oto ainda não havia reconhecido as crateras sagradas do reino, o que acarretou num banho recebido, involuntariamente, pela princesa Ana.

- Oh! linda e branca (ops!) senhorita, como posso ajudá-la neste momento de tão grande desconforto?

- Certamente não é com essa sua conversinha empolada, príncipe mais desastrado!

- Você me perdoaria se eu a levasse a minha casa pra tomar um banho imodesto na minha ducha mega-plus-ultra-sensation?

- Você só pode estar brincando, seu maníaco, tarado!

- Mais uma vez eu peço o seu perdão, princesa, pela precariedade dos meus recursos comunicativos. E como prova das minhas boas intenções, ofereço-me para levá-la ao seu castelo e aguardá-la até que se livre desse inconveniente causado por mim.

- Sendo assim, vou aceitar a sua oferta. Afinal, não posso ficar aqui a manhã inteira esperando a carruagem imperial para me levar ao trabalho. Os meus alunos devem estar mofando na fila de entrada e os pais, aflitos para voltar às suas obrigações.

- Você é professora! Mas que nobre profissão!

- Nisso estamos de acordo. Vamos.

Os dois saíram rumo à casa da Aninha. No caminho, o cavalheiro gentil pôde se apresentar adequadamente. Falou da vida profissional – era da Polícia Federal, trabalhava no combate ao uso abusivo de cogumelos reais e outras plantas alucinógenas. Se era favorável ao plantio das florestas de Atropa Belladonna? Sim, sim, desde que para uso medicinal e para fruição estética, afinal, como eram belas as belladonnas em seus chapéus de fada!

- Bendita lama! Benditas crateras reais! Aninha pensava enquanto se livrava do vestido sujo.

A mãe, que doravante seria chamada por Oto de a sogra, não gostara nada daquilo. Como poderia uma futura rainha entrar no carro de um desconhecido, ainda mais de um lindo e loiro desconhecido? Sua filha perdera o juízo e a culpa não era da mãe!

Muito rapidamente, Aninha saiu do seu quarto com um vestido de algodão ainda mais branco, e mais justo, e mais sedutor. Oto não piscava, mas babava. Desculpou-se pela poça que fizera surgir no meio da sala – explicando que se tratava de uma baba muito pura e cheia de boas intenções.

A mãe continuava sem aprovar aquela presença cheia de hormônios no centro do seu modesto castelo.

Ana despediu-se da mãe, entrou no carro de Oto e foi levada direto pra escola. No caminho, falaram mais um pouco de suas vidas. Ana gabou-se de ser professora, era muito feliz com o que fazia.

Ele foi. Ela ficou. Na escola, a aula transcorreu sem anormalidades, Joãozinho confirmando sua vocação para as piadas, Mariazinha, idem.

Fim da aula – quem aparece com o cavalo branco na porta da escola? Ele mesmo, o príncipe fogoso. Nós vamos direto? Direto. No caminho, muito curto, só conseguiram ouvir o refrão do Chico: “e foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouviam mais...”

No segundo encontro, o príncipe estava ainda mais ousado, e lindo, e forte, e tatuado. Meu Deus...

No terceiro dia, no quarto dia, no quinto dia, no sexto dia...

No sétimo dia, ambos suspiravam apaixonados e, convenhamos, um tanto cansados. Olharam-se, mas os olhos de Oto anunciavam um desfecho que não culminaria nem na Igreja São José nem na igreja do Barquinho.

-Sou casado.

- O quê?

-Sou casado, mas não sou mau caráter. O amor, meu amor, está acima do bem e do mal.

Choro. Muito choro.

- Me perdoa o egoísmo. É que minha esposa está doente. Há muito tempo eu cuido dela e, sabe como é, eu estava precisando de alguém que cuidasse um pouco de mim.

- Desgraçado. Príncipe de merda. Você sabotou o meu final feliz. Maldição! O que será agora dos contos de fadas?

Enquanto contava a verdade para a ex-primeira-rainha, a esposa, Amabile, descobria o adultério qualificado lendo as mensagens de texto no celular que Oto esquecera em casa.

Quando Oto apontou no portão do seu castelo, Amabile imediatamente pediu a anulação do casamento – o reino de Samambaia ainda não havia introduzido o divórcio nas suas sacras leis.

- Não vou fazer isso, Amabile. Eu amo você também.

- Não seja infantil.

- Vou promover um duelo. Aquela que ganhar será minha dona – para sempre.

- Não seja imaturo. Vamos conversar como três pessoas civilizadas e decidir o que fazemos.

Marcaram o encontro para o mesmo dia, às 9 horas, em frente à Casa de banhos.

- Blá-blá-blá-blá-blá-blá!!!

- Blá-blá-blá.

- Blá?

- Então eu passo um tempo com Oto, enquanto o meu tio, o Doutor Américo, cuida de você. Vou pedir para que ele a submeta à terapia do óleo de pequi. Há dez anos que titio vem desenvolvendo testes com libélulas e borboletas e a pesquisa tem apresentado grandes avanços e bons resultados.

- Isso é que é solidariedade feminina, é claro que aceito. Quando eu estiver totalmente curada da minha doença, certamente sua paixão por Oto terá desaparecido. Afinal, ele não é lá grande coisa, o que só se descobre com o tempo. Nesse período, eu vou preparando a minha volta triunfal, afinal, este é o meu conto de fadas e não o seu.

- Isso é que é solidariedade feminina, eu aceito os termos da proposta.

As profecias se cumpriram para Amabile, que se curou da doença, mas não para Ana, que continuou apaixonada. Meses se passaram... Mas um conto de fadas que se preza não vai deixar ninguém na mão, não é mesmo?

A verdade é que Amabile não se curou exatamente por causa das propriedades terapêuticas do pequi. Dois anos no interior de um sítio goiano, tomando banho de córrego, comendo araticum, jatobá, frango com guariroba deixa qualquer pessoa saudável. Além do mais, o viúvo Américo não dispensou a sua sabedoria caipira no preparo dos alimentos: a cada refeição, um beijinho de estimação. Ficava sempre grato com a obediência sábia de Amabile.

Quanto à Ana e Oto, os dois incuráveis apaixonados, a última vez que os vi foi na cerimônia de casamento de Amabile e Américo.

E quatro foram felizes para sempre...



Argumento: cursistas do módulo 1,

turma “C”, Samambaia;

Professora Cida.



PRODUÇÃO DOS CURSISTAS







AVALIAÇÃO

"Hoje (a oficina) foi mais dinâmica, pois houve o relato das leituras e atividades feitas com troca de experiências. O grupo já compreendeu o ritmo dos estudos, não houve dispersão"  (Izis)

"Considero o encontro de hoje muito bom , pois pudemos debater os assuntos tratados no livro e também trocar ideias de como trabalhá-los de forma ainda mais produtiva do que a apresentada no TP"   (Ana Cecília)

02 maio, 2009

OFICINA 2 (Semana de 27/04 a 02/05)

 TP3 - Gêneros e Tipos Textuais

Começamos com leitura de um trecho do livro O caçador de pipas e, logo após, fizemos o resgate do estudo das unidades 9 e 10 do TP3. Passamos para o relato de experiências do Avançando na Prática desenvolvido com a turma, em que partilhamos acertos e dificuldades encontrados em sua aplicação.  Entregamos o poema  Bom Dia recortado em versos para que o remontassem, e ainda que um       poema fosse transformado em um texto jornalístico e um texto jornalístico fosse transformado em poema.

CONSIDERAÇÕES

A partir dos estudos propostos no TP3, verificamos o quanto a nossa formação foi insuficiente em relação à questão dos gêneros textuais e o quanto é difícil, para o professor, o trabalho com a diversidade textual. Ele já faz uso dos gêneros, mas como pretexto para ensinar gramática, desconsiderando a função sociocomunicativa dos textos.

LEITURA DELEITE

TRECHO DO LIVRO “O CAÇADOR DE PIPAS – autor (Khaled Hosseini)
...Um dia, em julho de 1973, aprontei outra sujeira com Hassan. Estava lendo para ele quando de repente, deixei de lado a história. Fingi que continuava lendo o livro, virando as páginas regularmente, mas tinha abandonado completamente o texto, assumindo o comando da narrativa e estava inventando tudo por minha conta. Hassan é claro não percebeu nada. Para ele, as palavras da página eram um amontoado de códigos, algo indecifrável, misterioso. Eram portas secretas e eu é que detinha todas as chaves. No final, estava pronto para perguntar se Hassan tinha gostado da história, com o riso já se armando na minha garganta, quando ele começou a bater palmas.
- Há muito tempo que você não me contava uma história tão boa – disse ele ainda aplaudindo. Comecei a rir. – Sério? – Sério.
- Fascinante! – Murmurei. E também não estava brincando. Aquilo era... Absolutamente inesperado. – Tem certeza, Hassan? Ele continuava a bater palmas. – Foi o máximo, Amir. Lê mais amanhã?
- Fascinante – repeti meio sem fôlego, me sentido como um homem que descobre um tesouro enterrado em seu próprio quintal. Enquanto descíamos a colina, as idéias iam explodindo em minha cabeça como fogos de artifícios em Chamam.
- O quê quer dizer “fascinante”? Indagou Hassan. Comecei a rir. Dei-lhe um abraço bem apertado e um beijo na bochecha. Dei-lhe um empurrão leve. Sorri. - Você é um príncipe, Hassan. È um príncipe e adoro você.
Naquela mesma noite, escrevi minha primeira história. Levei trinta minutos para fazê-lo. Era um pequeno conto soturno sobre um homem que encontrava um cálice mágico e fica sabendo que, se chorar dentro dele, suas lágrimas vão se transformar em pérolas. Mas embora tenha sido sempre pobre, ele era feliz e raramente chorava. Tratou então de encontrar meios de ficar triste para que as lágrimas pudessem fazer dele um homem rico. Quanto mais acumulava pérolas, mais ambicioso ficava. A história termina com o homem sentado em uma montanha de pérolas, segurando uma faca na mão, chorando inconsolável dentro do cálice e tendo nos braços o cadáver da esposa que tanto amava.
Subi as escadas e fui direto para “a sala de fumar” de meu pai, levando nas mãos as duas folhas de papel onde tinha rascunhado a história. Quando cheguei, baba e Rahim Khan estavam fumando cachimbo e tomando brandy.
- O que foi Amir? – Perguntou baba recostando-se no sofá e cruzando as mãos na nuca. O seu rosto estava envolto em fumaça azulada, e o seu olhar fez minha garganta ficar seca. Pigarreei e disse que tinha escrito uma história. Baba acenou com a cabeça e deu um leve sorriso que demonstrava pouco mais que interesse fingido.
- Ora, isso é muito bom, não é? – Disse ele. E foi só. Apenas ficou me olhando através daquela nuvem de fumaça.
Devo ter ficado parado ali por menos de um minuto, mas foi um dos minutos mais longos de toda minha vida até aquele instante. Os segundos iam se arrastando, separados uns dos outros por uma eternidade. Baba continuou olhando para mim e não pediu para ler o que eu tinha escrito.
Como sempre, foi Rahim Khan que veio em meu socorro. Estendeu a mão e me brindou com um sorriso que nada tinha de fingido. “Posso ver, Amir jan? Adoraria lê-la”. Baba quase nunca usava o termo carinhoso, jan, quando falava comigo. Ele deu de ombros e se levantou. Parecia aliviado, como se também tivesse sido socorrido pó Rahim Khan.
A maior parte do tempo, eu adorava baba com uma intensidade quase religiosa. Naquele instante, porém, tudo o que queria era poder abrir as minhas veias e deixar que o seu maldito sangue saísse do meu corpo.
Uma hora mais tarde, quando o céu estava escurecendo, os dois saíram no carro de meu pai para ir a uma festa. Quando estavam de saída, Rahim Khan se agachou diante de mim e me entregou minha história junto com outro papel dobrado. Deu um sorriso e piscou o olho. “Tome. Leia mais tarde”. Fez uma pausa e acrescentou uma única palavra que foi mais eficaz no sentido de me encorajar a continuar escrevendo do que qualquer outro elogio que algum editor jamais tenha me feito. Essa palavra foi “bravo!”
Mais tarde, encolhido na cama, li e reli milhares de vezes o bilhete de Rahim Khan, que dizia o seguinte:
Amir jan, adorei sua história. Mashallah, Deus lhe concedeu um talento especial. Cabe a você, agora, aperfeiçoar esse talento, pois alguém que desperdiça os talentos que Deus lhe deu é simplesmente burro. Você escreve corretamente do ponto de vista gramatical e tem um estilo interessante. O mais impressionante, porém, é que a sua história tem ironia. Talvez você nem saiba o que essa palavra significa. Mas algum dia saberá. É algo que alguns escritores passam a vida inteira procurando e nunca conseguem atingir. E você conseguiu isso na primeira história que escreveu.
Minha porta está e sempre estará aberta para você. Amir jan. Estou pronto para ouvir qualquer história que tenha para contar. Bravo! Seu amigo
Rahim

O GESTAR NA SALA DE AULA







AVALIAÇÃO FEITA PELOS CURSISTAS