02 maio, 2009

OFICINA 2 (Semana de 27/04 a 02/05)

 TP3 - Gêneros e Tipos Textuais

Começamos com leitura de um trecho do livro O caçador de pipas e, logo após, fizemos o resgate do estudo das unidades 9 e 10 do TP3. Passamos para o relato de experiências do Avançando na Prática desenvolvido com a turma, em que partilhamos acertos e dificuldades encontrados em sua aplicação.  Entregamos o poema  Bom Dia recortado em versos para que o remontassem, e ainda que um       poema fosse transformado em um texto jornalístico e um texto jornalístico fosse transformado em poema.

CONSIDERAÇÕES

A partir dos estudos propostos no TP3, verificamos o quanto a nossa formação foi insuficiente em relação à questão dos gêneros textuais e o quanto é difícil, para o professor, o trabalho com a diversidade textual. Ele já faz uso dos gêneros, mas como pretexto para ensinar gramática, desconsiderando a função sociocomunicativa dos textos.

LEITURA DELEITE

TRECHO DO LIVRO “O CAÇADOR DE PIPAS – autor (Khaled Hosseini)
...Um dia, em julho de 1973, aprontei outra sujeira com Hassan. Estava lendo para ele quando de repente, deixei de lado a história. Fingi que continuava lendo o livro, virando as páginas regularmente, mas tinha abandonado completamente o texto, assumindo o comando da narrativa e estava inventando tudo por minha conta. Hassan é claro não percebeu nada. Para ele, as palavras da página eram um amontoado de códigos, algo indecifrável, misterioso. Eram portas secretas e eu é que detinha todas as chaves. No final, estava pronto para perguntar se Hassan tinha gostado da história, com o riso já se armando na minha garganta, quando ele começou a bater palmas.
- Há muito tempo que você não me contava uma história tão boa – disse ele ainda aplaudindo. Comecei a rir. – Sério? – Sério.
- Fascinante! – Murmurei. E também não estava brincando. Aquilo era... Absolutamente inesperado. – Tem certeza, Hassan? Ele continuava a bater palmas. – Foi o máximo, Amir. Lê mais amanhã?
- Fascinante – repeti meio sem fôlego, me sentido como um homem que descobre um tesouro enterrado em seu próprio quintal. Enquanto descíamos a colina, as idéias iam explodindo em minha cabeça como fogos de artifícios em Chamam.
- O quê quer dizer “fascinante”? Indagou Hassan. Comecei a rir. Dei-lhe um abraço bem apertado e um beijo na bochecha. Dei-lhe um empurrão leve. Sorri. - Você é um príncipe, Hassan. È um príncipe e adoro você.
Naquela mesma noite, escrevi minha primeira história. Levei trinta minutos para fazê-lo. Era um pequeno conto soturno sobre um homem que encontrava um cálice mágico e fica sabendo que, se chorar dentro dele, suas lágrimas vão se transformar em pérolas. Mas embora tenha sido sempre pobre, ele era feliz e raramente chorava. Tratou então de encontrar meios de ficar triste para que as lágrimas pudessem fazer dele um homem rico. Quanto mais acumulava pérolas, mais ambicioso ficava. A história termina com o homem sentado em uma montanha de pérolas, segurando uma faca na mão, chorando inconsolável dentro do cálice e tendo nos braços o cadáver da esposa que tanto amava.
Subi as escadas e fui direto para “a sala de fumar” de meu pai, levando nas mãos as duas folhas de papel onde tinha rascunhado a história. Quando cheguei, baba e Rahim Khan estavam fumando cachimbo e tomando brandy.
- O que foi Amir? – Perguntou baba recostando-se no sofá e cruzando as mãos na nuca. O seu rosto estava envolto em fumaça azulada, e o seu olhar fez minha garganta ficar seca. Pigarreei e disse que tinha escrito uma história. Baba acenou com a cabeça e deu um leve sorriso que demonstrava pouco mais que interesse fingido.
- Ora, isso é muito bom, não é? – Disse ele. E foi só. Apenas ficou me olhando através daquela nuvem de fumaça.
Devo ter ficado parado ali por menos de um minuto, mas foi um dos minutos mais longos de toda minha vida até aquele instante. Os segundos iam se arrastando, separados uns dos outros por uma eternidade. Baba continuou olhando para mim e não pediu para ler o que eu tinha escrito.
Como sempre, foi Rahim Khan que veio em meu socorro. Estendeu a mão e me brindou com um sorriso que nada tinha de fingido. “Posso ver, Amir jan? Adoraria lê-la”. Baba quase nunca usava o termo carinhoso, jan, quando falava comigo. Ele deu de ombros e se levantou. Parecia aliviado, como se também tivesse sido socorrido pó Rahim Khan.
A maior parte do tempo, eu adorava baba com uma intensidade quase religiosa. Naquele instante, porém, tudo o que queria era poder abrir as minhas veias e deixar que o seu maldito sangue saísse do meu corpo.
Uma hora mais tarde, quando o céu estava escurecendo, os dois saíram no carro de meu pai para ir a uma festa. Quando estavam de saída, Rahim Khan se agachou diante de mim e me entregou minha história junto com outro papel dobrado. Deu um sorriso e piscou o olho. “Tome. Leia mais tarde”. Fez uma pausa e acrescentou uma única palavra que foi mais eficaz no sentido de me encorajar a continuar escrevendo do que qualquer outro elogio que algum editor jamais tenha me feito. Essa palavra foi “bravo!”
Mais tarde, encolhido na cama, li e reli milhares de vezes o bilhete de Rahim Khan, que dizia o seguinte:
Amir jan, adorei sua história. Mashallah, Deus lhe concedeu um talento especial. Cabe a você, agora, aperfeiçoar esse talento, pois alguém que desperdiça os talentos que Deus lhe deu é simplesmente burro. Você escreve corretamente do ponto de vista gramatical e tem um estilo interessante. O mais impressionante, porém, é que a sua história tem ironia. Talvez você nem saiba o que essa palavra significa. Mas algum dia saberá. É algo que alguns escritores passam a vida inteira procurando e nunca conseguem atingir. E você conseguiu isso na primeira história que escreveu.
Minha porta está e sempre estará aberta para você. Amir jan. Estou pronto para ouvir qualquer história que tenha para contar. Bravo! Seu amigo
Rahim

O GESTAR NA SALA DE AULA







AVALIAÇÃO FEITA PELOS CURSISTAS







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